Quando o assunto é Mônaco, é impossível não lembrar dos iates, cassinos, carrões, lojas de grife — e, claro, da realeza e da Fórmula-1, certo?
Sim, tudo isso ainda está lá. Mas o principado vem trabalhando para se tornar um destino que, além da sofisticação e do glamour, ofereça também um outro tipo de luxo: o verde. Mas como isso é possível em um país tão pequeno?
Pois é! Mônaco é o segundo menor país do mundo — perde apenas para o Vaticano. E, em seus 2 quilômetros quadrados de área, vivem nada menos que 36 mil habitantes. Fora as 38 mil pessoas da França e da Itália que vão lá todo dia para trabalhar em lojas, restaurantes, hotéis etc. E isso sem falar nos turistas, naturalmente.
Então, é possível ser verde desse jeito? Pois Mônaco vem mostrando, nos últimos tempos, que é viável, sim, ser sustentável em pouco espaço e com muita gente em volta.
A seguir uma lista de iniciativas que põem o principado no mapa do que há de melhor nesse setor.
Menos carros, mais transporte público
Para incentivar os moradores a deixarem o carro em casa, o preço das passagens de ônibus foi fixado em 2 euros — e isso aumentou em 20% o uso do transporte público. Os ônibus de Mônaco contam com 142 paradas, servindo boa parte do território, inclusive tarde da noite. Em cada veículo (e também nos pontos) é possível monitorar em tempo real o trajeto da corrida — e assim calcular perfeitamente o tempo de chegada ao destino. As pessoas da França e da Itália que trabalham em Mônaco contam com os trens TER (Trem Expresso Regional) que, de manhã e na hora do rush, circulam a cada 15 minutos. Fora isso, o país também conta com um sistema de bicicletas compartilhadas em 17 localidades.
Se você tiver que usar carro, que ele seja elétrico
Cerca de 3,5% dos automóveis de Mônaco já são elétricos ou híbridos, o que ajuda a reduzir as emissões de CO2 e a melhorar a qualidade do ar. E quem tem carro elétrico conta com 574 postos de carga de energia no principado. Todos gratuitos! Estacionar também é mais fácil, pois há vagas destinadas exclusivamente a este tipo de automóvel. Mônaco tem, ainda, um sistema de aluguel de minicarros elétricos compartilhados, o Mobee. Você baixa um aplicativo e vê onde tem um veículo disponível nas proximidades (são 25 carros). Daí é só reservá-lo pelo aplicativo e a começar a usá-lo. Paga-se pelo tempo de uso do carro — ou uma taxa anual. O estacionamento para o Mobee é grátis tanto nas ruas de Mônaco quanto em 14 estacionamentos parceiros. E já que a ideia é promover os carros elétricos, o circuito automobilístico de Mônaco também abriga uma das etapas mundiais da Fórmula E, em que só competem carros… elétricos!
Restaurante 100% orgânico com estrela Michelin
Foi no restaurante Le Louis XV, no Hôtel de Paris Monte-Carlo, que o chef Alain Ducasse fez história, nos anos 1980, ao ganhar três estrelas Michelin em menos de três anos. E foi também em Mônaco que o chef italiano Paolo Sari fez novamente história ao ganhar uma estrela Michelin com seu restaurante Elsa — a primeira já dada a um estabelecimento 100% orgânico. O menu saudável, colorido e que respeita os ciclos da natureza inclui azeites de oliva, pães de farinha orgânica preparados no local duas vezes ao dia, carne branca, aves e cordeiro de fazendas orgânicas, além de peixes, vegetais frescos e frutas sazonais. Até mesmo os vinhos que harmonizam com os pratos da casa são orgânicos. O Elsa fica no hotel Monte-Carlo Beach, que tem outros restaurantes que operam em um sistema 90% orgânico — até para o room service. A ideia é fazer com que o hotel se torne, em breve, 100% orgânico.
A proibição do atum-rabilho
Todos os restaurantes de Mônaco estão alinhados à política de proteção à biodiversidade do Príncipe Albert II e não utilizam mais, em seus cardápios, o bluefin tuna, ou atum-rabicho, uma espécie de peixe ameaçada de extinção. Diversos restaurantes também são parceiros da campanha Mr. Goodfish, que tem como objetivo difundir o conhecimento, entre consumidores e profissionais da indústria pesqueira, sobre o consumo sustentável de produtos marinhos, encorajando decisões responsáveis e reduzindo reservas pesqueiras não-sustentáveis.
São 1.400 metros quadrados de hortas orgânicas
Em 2016, a suíça Jessica Sbaraglia fundou a start-up Terre de Monaco, voltada para a agricultura orgânica. A ideia era criar oásis verdes nos tetos, sacadas e terraços dos imóveis do principado. A primeira horta orgânica foi criada nos jardins da Fundação Albert II. Em 30 metros quadrados, foram plantadas oliveiras, laranjeiras e violetas. A Terre de Monaco oferece hortas sob medida para áreas pequenas, que são mantidas mediante o pagamento de uma anuidade. Os serviços são oferecidos tanto para pessoas físicas que tenham uma pequena varanda quanto para um restaurante ou um condomínio. Após um ano, os resultados foram excelentes: 1.400 metros quadrados de terra cultivada em Mônaco. Um detalhe que mostra o espírito inovador de Jessica foi a forma que ela encontrou para a fertilização das hortas. Não há criação de gado em Mônaco, mas existe um programa de proteção às tartarugas no Museu Oceanográfico do principado. Após testes, foi comprovado que o esterco destes animais tem qualidades comparáveis ao dos carneiros. Assim, o esterco de tartarugas é utilizado para a fertilização das plantações.
A política de desenvolvimento sustentável dos hotéis
A indústria hoteleira de Mônaco está empenhada em mudar o futuro do planeta com pequenas e importantes ações dentro de casa. Em 2007, o hotel Metropole Monte-Carlo introduziu políticas ambientais, chamadas de Green Attitude, para reduzir impactos ambientais e sensibilizar seus públicos para a causa verde. Entre as ações, estão o monitoramento do consumo de água e energia, a diminuição da quantidade de lixo produzido reduzindo o consumo de papel, a separação e a reciclagem do lixo, e a priorização de produtos e fornecedores verdes. A Monte-Carlo Société des Bains de Mer, dona de importantes estabelecimentos monegascos, como o Cassino de Monte-Carlo e o Hôtel de Paris, também implementou cartas ambientais baseadas em pontos como certificações ambientais, consumo de energia, consumo de água, compras responsáveis, separação e reciclagem do lixo e construção e reformas sustentáveis. Já o Le Meridien Beach Plaza oferece aos clientes a opção de não trocar seus lençóis e toalhas por vários dias. As televisões também não são mais ligadas antes da chegada dos hóspedes e as lâmpadas de baixo consumo substituíram as tradicionais, de forma a reduzir o consumo de energia.
A qualidade do ar e do mar de Mônaco são monitoradas
Mônaco também monitora a qualidade do ar e de suas águas. Há 20 anos, o principado instaurou uma rede de controle de qualidade do ar com seis estações de monitoramento. Fazendo essa medição contínua, é possível emitir avisos de poluição e verificar a qualidade do ar a longo prazo. Os resultados são comunicados ao público por meio de telas na entrada do país. O principado também monitora a qualidade física e química das águas costeiras com base em medições repetidas de todos os componentes do ambiente marinho (massas de água, sedimentos e organismos vivos), assim como monitora os efeitos de eventos naturais ou atividades artificiais que podem afetar a qualidade da água. Vale destacar que a Baía de Mônaco inclui duas áreas protegidas, a Larvotto Reserve, criada em 1976, com uma área de 30 hectares, e a submarina Spelugues, com cerca de 1,9 hectares, criada em 1986, e casa de diversas espécies marinhas.