Por dentro de Pequim

Por Marcelo Camacho, especial para o Carioca NoMundo

Voltei a Pequim dez anos depois da minha primeira viagem à China, em 2005. E a pergunta que todo mundo me fez por lá foi: “Você acha que a cidade mudou muito?” Minha resposta: Sim e não. É que, em 2005, Pequim já era bastante cosmopolita, com centenas de arranha-céus em construção, trânsito caótico, restaurantes de todas as partes do mundo, bons preços, além, é claro, das atrações históricas de quase fazer você chorar de emoção, como a Cidade Proibida e o Templo do Céu. Bom, agora Pequim é muito mais cosmopolita, os arranha-céus são impressionantes (e muitos outros estão sendo construídos), o trânsito continua caótico, os restaurantes estão bombando, os preços ainda são razoáveis e os marcos históricos seguem bem preservados – e lotados de turistas, em geral chineses (lembre-se de que é um país com 1.5 bilhão de habitantes).

 

E aí… Como é que é lá?

  • Pequim é uma cidade gigante, com muita coisa para fazer. Reserve pelo menos uns cinco dias para tentar ver tudo.
  • Quase ninguém fala inglês e comunicar-se sem a ajuda de um guia que fale português ou inglês, como os da operadora de turismo Wildchina, por exemplo, é um desafio constante.
  • Leve dólares ou euros e troque por yuans na recepção do hotel. A cotação das moedas estrangeiras raramente varia na China, então, não há risco de um câmbio ruim.
  • Também é possível trocar dinheiro em qualquer banco, mas prepare-se para enfrentar a burocracia chinesa — além do passaporte, que vai ser até xerocado, você vai precisar fornecer endereço e telefone do hotel e assinar três vias de recibo com carbono. Demora um pouco, mas funciona.
  • Andar de táxi em Pequim é mais barato que nas grandes cidades brasileiras, mas não chega a ser “de graça”, e, desde que você tenha anotado em mandarim o destino para onde vai, tudo transcorre tranquilamente. Mas, como em qualquer lugar do mundo, é sempre bom evitar a hora do rush.
  • Prefira os carros mais novos, pois os táxis antigos são um tanto mal-cheirosos e ainda trazem uma grade horrenda que isola o motorista dos passageiros — coisa de outros tempos, quando os taxistas tinham medo de levar uma chave de braço durante um possível assalto.
  • Falando nisso, Pequim é bem segura, tanto de dia quanto à noite. Como me disse uma amiga que mora lá há muitos anos, uma mulher pode andar sozinha depois da meia-noite em um bairro mais deserto sem a menor preocupação.
  • O metrô de Pequim é bem fácil de usar. Nas máquinas de autoatendimento, é só acionar a tela em inglês e selecionar a linha em que você quer andar. Daí, abre-se um mapa com todas as estações dessa linha. Ao clicar na parada desejada, a máquina calcula a distância e emite o bilhete. Até 6 km, a viagem sai por 3 yuans – cerca de 1,5 real. Em 2005, eram três linhas de metrô em Pequim. Agora, são 17 – e tem uma, circular, que conta com 45 paradas! Para ter acesso às plataformas é preciso, além do ingresso, passar bolsas e sacolas por máquinas de raio x.
  • Muito cuidado na hora de atravessar a rua. As faixas para pedestres (infelizmente, assim como em muitas cidades brasileiras) são meramente decorativas.
  • E não são só os motoristas que não respeitam os pedestres. Bicicletas (cada vez mais escassas) e lambretas (por toda parte) também são um perigo constante.
  • O chineses têm o hábito de cuspir no chão — em qualquer lugar. É cultural, como se estivessem botando para fora algo que não é bom para a saúde. Esteja preparado.
  • Quase todas as redes sociais são proibidas na China. Facebook não carrega (nem o chat). Twitter, muito menos. Instagram, com muita sorte, uma atualização a cada dois dias, e, mesmo assim, por uns 15 segundos apenas. Gmail entra uma vez por dia – e dê-se por satisfeito. Google, nem pensar. O único que funciona perfeitamente é o WhatsApp.
  • Sabe aquele canhoto que você recebe quando despacha uma mala no check-in da companhia aérea? Pois nos aeroportos chineses tem sempre um funcionário na saída para verificar se as malas que você carrega são mesmo suas. Portanto, canhoto na mão logo após sair da esteira de bagagens.

 

Dicas de Pequim, depois me conta como foi…

  • A Cidade Proibida. O complexo de palácios que abrigou 24 imperadores chineses das dinastias Ming e Qing, entre 1420 e 1912, fica no coração de Pequim, logo acima da Praça da Paz Celestial (o principal marco da cidade, com seus 440 mil metros quadrados). O ingresso para a Cidade Proibida (ou Palace Museum, seu nome oficial) custa, entre abril e outubro, 60 yuans (cerca de 30 reais), e, entre novembro e março, 40 yuans (cerca de 20 reais). Não deixe de optar pelo áudio-guia em português, uma mão na roda (40 yuans). São 300 prédios, com 9.999 aposentos, mas não dá para entrar em quase nenhum deles. Mesmo assim, andar pelos pátios e admirar as construções é um programão e tanto. Reserve pelo menos quatro horas. Se for no verão, capriche no protetor solar, pois quase não há sombras.
A arquitetura palaciana da Cidade Proibida, em Pequim
Um dos pátios internos da Cidade Proibida
A Cidade Proibida
Detalhe de um telhado de madeira ornamentado
A Cidade Proibida vista do alto do Parque Jingshan Dong Jie

 

  • Jingshan Dong Jie. Esse parque fica logo depois da saída da Cidade Proibida (não se preocupe, pois só há uma saída, então não há risco de você se perder, basta atravessar a rua, como dá para ver na foto acima). A história: quando o imenso lago que cerca os muros da Cidade Imperial foi escavado, toda a terra retirada dali foi usada para erguer uma colina no Jingshan Dong Jie. O lugar tem muito verde, pagodes tipicamente chineses e uma enorme estátua dourada de Buda. Mas sua principal atração é justamente a vista que se tem, lá de cima, da própria Cidade Proibida.
Pagode chinês no parque Jingshan Dong Jie
A área verde do Jingshan Dong Jie
Estátua de Buda no topo da colina do parque

 

  • O Templo do Céu. Construído em 1420, mesmo ano em que a Cidade Proibida ficou pronta, o Templo do Céu é onde os antigos imperadores adoravam os céus, faziam sacrifícios de animais para que a China tivesse boas colheitas e pediam pelo bem e prosperidade do seu povo. O prédio principal, circular e todo feito de madeira encaixada, sem o uso de um único prego, é uma bela joia arquitetônica.
O Templo do Céu, em Pequim
O Templo do Céu
A decoração interna do prédio principal

 

  • O Palácio de Verão. Onde antes havia um bosque, a 10 quilômetros de Pequim, o imperador Qianlong, que governou a China entre 1736 e 1795, mandou construir um palácio em que ele pudesse se refugiar do calor durante o verão. Assim, nasceu o Palácio de Verão, que conta com um gigantesco lago (todo cavado do nada por 10 mil homens), templos, mirantes e diferentes tipos de aposentos. A visita dura, fácil, fácil, umas cinco horas. O preço dos ingressos varia de 20 a 30 yuans (10 a 15 reais).
O lago, o bosque e alguns prédios do Palácio de Verão
Ponte para uma pequena ilha no lago do Palácio de Verão
Um dos templos do Palácio de Verão
Um imenso corredor coberto liga diferentes partes do Palácio de Verão
Detalhe da decoração do corredor coberto
Um dos prédios do Palácio de Verão
O lago (com Pequim ao fundo) visto do alto da colina

 

  • Muralha da China. No seu auge, a partir do século 14, a Muralha da China alcançou 6.700 quilômetros de extensão, separando o território chinês do Norte do continente. Hoje, muita coisa já ruiu ou está terrivelmente mal conservada. Três trechos próximos a Pequim são mantidos para visitação turística, sendo o mais popular o de Badaling, onde estive em 2005, junto com milhares de turistas. Desta vez, fui a Mutianyu, que é um pouco mais longe, porém, bem mais tranquilo. E com o diferencial da descida de tobogã. É, você sobe de teleférico até o alto da colina onde as muralhas estão e tem a opção de descer de tobogã. São cinco minutos de muita emoção! Preço da visita, com direito ao tobogã: 180 yuans (cerca de 90 reais).
A Muralha da China, no trecho de Mutianyu
A Muralha da China
As construções vão até onde o olhar alcança

 

  • Templo Lama. Construído no século 17 e transformado em templo tibetano em 1744, o Templo Lama de Pequim é a casa de um Buda gigante, com 17 metros de altura, todo feito de uma única tora de sândalo. Acenda seu incenso e faça as suas preces.
A entrada do Templo Lama de Pequim
Uma das construções do Templo Lama
Uma das construções do Templo Lama de Pequim
O Buda gigante feito de uma única tora de sândalo

 

  • 798 Art Zone. Em um antigo complexo de fábricas de armamentos dos anos 1950, ao Norte de Pequim, funciona a 798 Art Zone, uma área com galerias de arte, estúdios de design, lojas descoladas, bares e restaurantes. Há ainda várias esculturas expostas ao ar livre. Bom para ir na happy hour ou durante o dia nos fins de semana.
Antiga fábrica transformada em galeria de arte na 798 Art Zone

 

  • Parkview Green. Esse é o shopping mais bacana de Pequim. Fica no bairro de Chaoyang numa torre de vidro em formato de uma quase-pirâmide e abriga marcas internacionais como Balmain, Stella McCartney, Mulberry, Van Cleef & Arpels, Ted Baker e Breitling, entre outras, todas com preços nada convidativos. Seu principal atrativo é, na verdade, a coleção de arte contemporânea exibida em seus corredores. A cada passo, há uma surpresa daquelas.
O shopping de luxo Parkview Green
Obra “What You See Is Not Necessarily True”, do artista Chen Wen Ling
A galeria de arte do shopping Parkview Green
Obras de arte no Parkview Green

 

  • The Place Mall. Como shopping em si, não possui grandes atrativos. São dois prédios, com lojas como Zara, Aldo, Adidas e também marcas chinesas, além de restaurantes e cafés. O que arrebata mesmo, no The Place, é a enorme piazza coberta que liga os dois edifícios. No topo do espaço, servindo de teto, há a maior tela de LCD do mundo, com projeções diversas, logo após o entardecer. “Blade Runner” total. Fica na mesma avenida que o Parkview Green, a Dongdaqiao Road, apenas umas quatro quadras ao sul.
O impressionante teto de LCD do The Place

 

  • Sanlitun Village. São 19 prédios, alguns baixinhos, que formam um shopping a céu aberto, no bairro de Sanlitun, o mais cosmopolita de Pequim, cheio de bares, restaurantes, cafés e ruas de comércio modernas (tudo reformado a partir de 2004, por causa das Olimpíadas de Pequim, em 2008). Ali, há a maior loja da Adidas do mundo, uma badalada Apple Store, a concorrida Uniqlo, a sempre cheia H&M. E, diferentemente da maior parte da cidade, que é cheia de grandes avenidas, trata-se de um lugar perfeito para caminhar, ver e ser visto.
Prédios no Sanlitun Village, Pequim

 

  • Os mercados. É claro que você já reparou na quantidade de vezes que os dizeres Made in China aparecem nas etiquetas de roupas e acessórios de marcas bacanas, né? Pois é, muitos são feitos lá – e depois falsificados lá também. Daí, o sucesso de mercados como o Silk Market (na região central de Pequim) e o Pearl Market (perto do Templo do Céu), que, sim, oferecem seda e pérolas e vários outros artigos tipicamente chineses, mas também vendem produtos fake, de bolsas “Louis Vuitton” a tablets “Samsung”, a preços inacreditáveis de tão baratos (tipo 90 reais uma carteira masculina “Goyard” – não, eu não comprei). As imitações são boas, mas dá para ver que não passam disso, e comprar ou não vai da decisão pessoal de cada um. Mais autêntico é o Panjiayuan, um “mercado de antiguidades”, que tem todo tipo de produto artesanal, como esculturas de jade, vasos de porcelana, marionetes de teatro de sombras, lanternas chinesas, terços de sândalo e por aí vai. É tudo antigo? Claro que não! A não ser que você considere antiguidade algo feito na semana passada. Vá e prepare-se para pechinchar muito! Se disserem que algo custa mil yuans, ofereça 10 e compre, no máximo, por 50. É assim que funciona.
    Pincéis de caligrafia por 30 yuans (cerca de 15 reais) cada no mercado Panjiayuan
    O colorido das lanternas chinesas
    As bolsas fake do Silk Market

     

  • Rosewood Hotel. Inaugurado em outubro de 2014, o Rosewood Beijing já é considerado o melhor hotel da cidade. São 283 apartamentos luxuosos, todos com ambiente de sala e quarto, mesa para refeições, sofá, bar, walk-in closet, banheira de mármore, obras de arte, livros e muitos objetos de decoração. Como se fosse uma casa. O hotel tem seis restaurantes, cada um mais interessante que o outro, como o Country Kitchen e o Red Bowl. Há também o The House of Dynasties, com salas de jantar privativas, para pequenos grupos, um conceito bastante popular na China. Tente hospedar-se nos apartamentos que dão direito a frequentar o Manor Club, um andar com lounge, sala de jogos, cozinha gourmet, sala de leitura e delicioso café da manhã. O spa é outra maravilha, com uma imensa piscina coberta, sala de yoga, academia 24 horas decorada com quadros de artistas chineses contemporâneos, além de diversas tipos de massagens e tratamentos.
Apartamento do Rosewood Pequim
O banheiro moderno
As delícias do Manor Club
O Manor Club
Sala de jantar privada no The House of Dynasties, um dos restaurantes do Rosewood
A piscina do Rosewood
  • Opposite House Hotel. No chique bairro de Sanlitun, o hotel Opposite House é o suprassumo da modernidade, com quartos amplos, em que o design arrojado e minimalista impera. Predominam os tons de madeira clara, inclusive na banheira retangular de carvalho, separada do quarto (assim como o restante do banheiro) por um blindex e uma fina cortina branca. O show já começa no térreo, repleto de obras de arte de artistas chineses contemporâneos, como Shi Zhongying. Também há restaurantes incríveis no subsolo, como o Jing Yaa Tang, onde comi um pato laqueado inesquecível – a ave, após temperada, é assada em um forno à lenha à temperatura de 270 graus. Depois, é fatiada na frente do cliente e servida com toda a crocância da pele e maciez da carne. Delícia!
Apartamento do Opposite House Pequim
O restaurante Jing Yaa Tang, no subsolo do hotel
O pato laqueado do Jing Yaa Tang

Fuja das roubadas…

  • O trânsito em Pequim, na hora do rush, é de enlouquecer. Evite deslocamentos de carro entre 16h e 20h. Aposte no metrô.
  • Em movimentados pontos turísticos, como na entrada da Cidade Proibida, há sempre jovens chineses querendo puxar papo com estrangeiros. É só para praticar o inglês mesmo. Mas se você estiver com pouco tempo, isso pode ser um inconveniente.
  • Não se iluda com as peças de marcas famosas a preços baixos em mercados populares. É tudo falsificado.
  • Fuja dos táxis velhos e fedorentos. É pela aparência mesmo que se escolhe um táxi na rua. Quanto mais novo, melhor.
Táxi velho, com o motorista separado dos passageiros por uma grade

Por fim, fiz um vídeo com as principais atrações de Pequim. É só clicar no link abaixo para assistir — aproveite para se inscrever no canal Carioca NoMundo, no YouTube.

 

 

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