O arranha-céu londrino de 95 andares que aparece na foto é hoje a torre mais alta da União Europeia, com 309,7 metros de altura.
Ele se chama The Shard, tem apenas 72 andares habitáveis e é uma pirâmide de vidro esguia projetada para abrigar escritórios, apartamentos e um hotel de luxo, o Shangri-La at The Shard, cujo lobby e restaurante ficam localizados no 35º andar.
A arquitetura arrojada do edifício, projetado pelo arquiteto italiano Renzo Piano, agrada a muitos e assusta outros tantos.
Uma boa parte dos andares corporativos permanece desocupada. Escutei de locais versões distintas sobre o imenso vazio. Uns disseram que, no feng shui, telhados em forma de pirâmide não atraem boas energias para os negócios. Outros criticaram os preços elevados do metro quadrado.
E a mais curiosa de todas as versões é a da falta de privacidade. O lance é que, para enfeitar a fachada, o arquiteto colocou vidros sobrepostos em ângulos diferentes, resultando em um jogo de espelhos entre os vizinhos. Em determinados horários, você pode avistar o que acontece no apartamento abaixo do seu. Mas não se esqueça que seu telhado também é de vidro. Você se arriscaria a participar desse Big Brother?
A entrada principal do Shangri-La é separada dos escritórios. Nela, estão um pé direito colossal e um balcão avançado de concierge.
Tudo perfeito, não fossem os lustres retangulares com penduricalhos de cristal que mais parecem um Hilton dos anos 1970. Merecia ali uma imensa instalação ou uma escultura de luz no teto. Perderam essa chance.
Do térreo ao 35º andar, onde fica a recepção, um elevador faz o percurso em exatos 20 segundos.
O hotel previu áreas públicas e apartamentos muito espaçosos. Pedi para visitar uma suíte antes do jantar. Conforto de sobra. Vi muitas peças e móveis interessantes isoladamente, mas o contexto geral ficou um pouco rebuscado para os padrões atuais. Muita informação junta que acaba cansando.
O pôr do sol no Gong Bar, localizado no 52º andar, é um must do em Londres. O bar é bacanérrimo, os drinques são ótimos e essa é disparada minha área favorita do hotel. O visual é fantástico, mas a frequência é um tanto quanto corporativa.
Estava bebendo no bar quando ouvi a conversa de um rapaz que teve seu voo cancelado e recebeu da companhia aérea um voucher para se hospedar no hotel.
Sou macaco velho e sei que empresas de aviação só reservam hotéis onde suas tarifas-acordo são baixíssimas — e vamos combinar que isso não condiz com um cinco estrelas recém-inaugurado em Londres. Estranho…
Ainda no mesmo bar também tive boas surpresas, como a carta de signature cocktails. Adorei todos que experimentei, mas meu favorito foi o spring julep.
Lembro que reservas no Gong são obrigatórias, sobretudo para não hóspedes.
Para sua sorte – e meu azar — testei o restaurante Ting. Quiseram fazer um serviço palace francês, que não deu certo e acabou ficando pretensioso.
O cardápio é do tipo comida internacional, ou seja, sem identidade. Pedi para conferir o menu asiático, que só pode ser oferecido com uma única condição: se alguém da mesa pedir um prato chinês, os outros convidados devem seguir a mesma linha.
O fim da picada, e a explicação é que a cozinha asiática fica em outro andar. Portanto, para facilitar a operação, é obrigatória a padronização de pedidos…
Para terminar: mandaram mal nos uniformes com coletes vermelhos acetinados e gigantes para o tamanho dos garçons. Uma mistura de Michael Jackson com Holiday Inn.
Se for lá conferir, depois me conta como foi. Good luck!